quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Conservando a Fé e a Boa Consciência


Conservando a Fé e a Boa Consciência

V. 19 – Mas havia algo mais; se Timóteo ia guiar os santos em uma linha de conduta adequada para a casa de Deus, ele precisava prestar atenção à condição de sua própria alma “conservando a fé e a boa consciência”. O estado moral que Timóteo tinha que trabalhar junto aos santos também deveria ser encontrado nele próprio. Talvez o motivo pelo qual Paulo não menciona “caridade [amor]” aqui, como ele faz no verso 5, é porque era óbvio que Timóteo amava e cuidava dos santos profundamente (Fp 2:20).
Em primeiro lugar, Timóteo precisava estar “conservando a fé”. Essa é uma referência à energia interna de confiança da alma em Deus – a fé pessoal de Timóteo. Ela precisava ser mantida radiante e simples, não para que ele pudesse preservar a salvação de sua alma – que estava eternamente assegurada – mas para se proteger contra as dúvidas que o inimigo colocaria em seu coração e que perturbaria sua confiança em Deus. Não deveria ser uma surpresa para nós que Satanás esteja tentando destruir a fé do Cristão – especialmente daqueles que estão empenhados no serviço ao Senhor. Ele usa frequentemente circunstâncias difíceis da vida para gerar dúvidas em nosso coração sobre se Deus realmente Se importa conosco e se está provendo para nós. Quando surgirem dúvidas como essa – e elas certamente surgirão – nós precisaremos erguer “o escudo da fé” e “apagar” esses “dardos inflamados” (Ef 6:16) lembrando que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28). O primeiro sinal de que a fé de uma pessoa está balançando sob a pressão do inimigo é que ela se torna desanimada no caminho; que possamos estar vigilantes (1 Pe 5:8).
Em segundo lugar, Timóteo precisava conservar “uma boa consciência”. Isso não é mantido por meio de nunca pecarmos, o que seria impossível, porque “todos tropeçamos”, às vezes, de uma forma ou de outra (Tg 3:2). Uma boa consciência é conservada ao julgarmos a nós mesmos regularmente. Julgamento próprio diário, mesmo nas menores coisas, é essencial para ser guardado de ficar à deriva em direção às rochas e sofrer um naufrágio espiritual. É a confissão de pecado simples e sincera, combinada com o verdadeiro arrependimento, que leva a alma de volta à comunhão com Deus (1 Jo 1:9). Resolver rapidamente com Deus (não esperando um momento mais conveniente para confessar um pecado a Ele) é um exercício necessário para manter uma condição correta de alma.
Uma “boa” consciência é diferente de uma consciência “purificada” (Hb 9:9, 14, 10:1-2, 12-14). A primeira diz respeito a nossa condição e a segunda a nossa posição diante de Deus. Quando uma pessoa entende a obra consumada de Cristo e descansa com fé nisso, o Espírito de Deus vem habitar na pessoa e lhe dá uma consciência purificada em relação à pena eterna dos seus pecados. Mas um crente com uma consciência purificada pode perder a boa consciência ao permitir o pecado em sua vida. Ele não perde sua salvação, mas sua comunhão será interrompida, e assim, confissão e arrependimento serão necessários para recuperá-la.
Quando uma pessoa rejeita uma boa consciência ao recusar julgar a si mesma, como Paulo diz que alguns estavam fazendo, ela sofrerá um “naufrágio quanto a fé” (Trad. de W. Kelly). J. N. Darby observa que o segundo uso da palavra “fé” no verso 19, se refere à doutrina do Cristianismo – a revelação da verdade que uma vez foi entregue aos santos (Jd 3). Em geral, quando o artigo “a” está no texto antes da palavra “fé”, o termo está se referindo à revelação Cristã da verdade. Quando o artigo não está presente, refere-se à segurança e confiança pessoal em Deus. Portanto, sofrer um naufrágio no que se refere à “fé” significa que uma pessoa se desviou do trajeto acerca da verdade. Pode ser algo pequeno no início, mas com o passar do tempo, o ângulo do desvio se torna mais evidente. A verdade não naufraga; é aquilo que a pessoa sustenta quanto à doutrina que se torna deficiente. Visto que más doutrinas raramente andam sozinhas, sua teologia reunirá um número cada vez maior de elementos errados com o passar do tempo.
Para um Cristão, pecar é algo muito sério, mas o que é pior é a relutância em julgar tal ato. É isso que leva uma pessoa a ir por um caminho que leva ao naufrágio. Começa-se permitindo que algum pecado, ainda que pequeno, permaneça sem ser julgado. Como consequência, ele perde uma boa consciência e torna-se inquieto por estar sendo constantemente atormentado por isso. Quase sempre, ele irá alterar sua doutrina para acomodar e justificar seu trajeto – mas isso será para sua própria destruição espiritual, na medida em que seu testemunho pessoal em relação à verdade está em questão.
V. 20 – Dois homens (“Himeneu e Alexandre”) são mencionados como um exemplo de crentes que sofreram um naufrágio no seu testemunho Cristão. Eles servem como um alerta a todos que não são cuidadosos em conservar “fé e boa consciência”. Esses homens vieram sob o julgamento do apóstolo e foram por ele “entregues a Satanás, para que aprendam [sejam ensinados por disciplina – JND] a não blasfemar”. Eles se desviaram de tal maneira do trajeto que chegaram a ter a audácia de ensinar coisas depreciativas sobre as Pessoas da Divindade – que é o que significa blasfêmia. Eles foram postos fora da comunhão (excomungados) pelo apóstolo e deixados no mundo exterior onde Satanás poderia lidar com eles.
Nós também vemos nisso que há um aspecto de salvação prática do inimigo de nossas almas ao estarmos dentro da assembleia. Esses homens foram postos fora dela, e assim perderam sua proteção. J. N. Darby disse, “Na assembleia (quando está em sua condição normal) Satanás não tem esse tipo de poder. Ela está guardada dele, por ser o lugar de habitação do Espírito Santo, e protegida por Deus e pelo poder de Cristo. Satanás pode nos tentar individualmente, mas ele não tem nenhum poder sobre as pessoas enquanto membros da assembleia. Eles estão dentro, e, por mais fracos que possam estar, Satanás não pode entrar nela. Eles podem ser entregues a ele para o seu próprio bem. Isso pode acontecer a qualquer momento. Dentro da assembleia está o Espírito Santo; Deus habita nela como Sua casa por meio do Espírito. Do lado de fora está o mundo do qual Satanás é o príncipe. O apóstolo (pelo poder conferido a ele, pois trata-se de um ato de poder positivo) entregou esses dois homens ao poder do inimigo – privando-os da proteção que eles desfrutavam)” (Synopsis of the Books of the Bible - JND, sobre o capítulo 1:21).
Se pudermos tirar algo do significado dos nomes desses dois homens como uma indicação de seu caráter, nós teríamos um aviso sério. “Himeneu” significa “música de casamento”. Isso indica que ele tinha um aspecto adorável no seu jeito de ser. Embora todos nós devamos buscar ser semelhantes a Cristo em nosso caráter, se isso não for genuíno, pode ser enganoso. Há um perigo de se tornar fascinado por pessoas que falam de um jeito amável e que têm um bom comportamento. Nós podemos ser pegos desprevenidos por isso. Talvez esse homem possa se apresentar muito bem, mas ele sustenta doutrinas blasfemas! Devemos ficar atentos com esse tipo de pessoa. “Alexandre” (É provavelmente a mesma pessoa mencionada em 2 Timóteo 4:14-15) significa “defensor do homem”. Esse homem estava em oposição direta ao ministério de Paulo, que não dá nenhum lugar ao primeiro homem nas coisas de Deus. Seu nome sugere que ele resistiu e se opôs a essa linha de verdade e procurou dar um lugar ao homem na carne na Igreja de Deus.
Em resumo, Paulo enfatizou duas coisas que são essenciais para manter uma boa condição de alma no serviço ao Senhor:
  • “Fé” que traz Deus para dentro.
  • “Uma boa consciência” que julga a si mesmo e afasta o pecado.

Sem essas duas coisas, Timóteo não seria capaz de combater “o bom combate” (ARA). Ele seria incapaz de permanecer diante do inimigo no combate da fé – tão pouco nós também.
Assim, o “encargo” que Paulo deu a Timóteo não era a de sair e fazer uma exibição de milagres, ou fazer algo que chamasse a atenção para si mesmo; era apenas a de guiar os santos em uma linha de conduta condizente com a ordem da casa de Deus. Isso era para ser realizado ensinando as doutrinas da graça que promovem a atual dispensação de Deus no Cristianismo, a fim de que os santos sejam encontrados em uma condição adequada para andarem de acordo com a devida ordem na casa de Deus. Timóteo, então, tinha que apresentar o padrão na casa para que eles seguissem; isso é ensinado nos capítulos seguintes da epístola.

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