O Encargo e a Sua Finalidade
Vs. 3-5 – Paulo vai direto à questão que deu origem à
escrita da epístola. Havia “alguns” em Éfeso que estavam ensinando
coisas estranhas e sem proveito que não edificariam os santos na
santíssima fé (Jd 20) e era necessário pôr um fim nisso. Anteriormente, Paulo
havia alertado os anciãos em Éfeso sobre a apostasia que estava a caminho
daquela região (At 20:29-31). Isso já havia começado e estava ganhando força
entre alguns mestres dentre eles. No momento da escrita de sua segunda epístola
a Timóteo, Paulo teve que informar que “todos” na Ásia (da qual Éfeso
era a capital) “se apartaram” dele e de seus ensinos (2 Tm 1:15).
Devido a iminente apostasia, Paulo disse a Timóteo
para “advertir” aqueles que ensinavam na assembleia a que “não
ensinem outra doutrina”, mas
aquela que é para “edificação piedosa” (KJV). Paulo evidenciou as doutrinas estranhas que estavam vindo
de duas fontes diferentes:
- Ele classifica a primeira como sendo “fábulas”. Elas eram imaginações pretensiosas (“especulações” Rm 1:21 – TB) que estavam sendo trazidas pelos gentios convertidos de suas antigas crenças pagãs. Elas eram principalmente de origem grega.
- Ele chama a segunda de “genealogias intermináveis”. Esses eram detalhes irrelevantes de referências históricas que estavam sendo trazidos pelos judeus convertidos. (“intermináveis” significa algo que é longo, tedioso e cansativo; essa é uma palavra melhor do que “infindáveis” que é usada na KJV, pois as genealogias têm um fim em Adão.)
Timóteo não devia “se ocupar” (ARA) com essas
coisas pois elas não ajudariam espiritualmente a ele nem aos santos em Éfeso;
tais coisas apenas “produzem questões” em vez de “edificação piedosa”.
“Fábulas” são ideias falsas provenientes da imaginação humana discorrendo
com insensatez sobre coisas espirituais. São o resultado de uma mente
indisciplinada atuando nas coisas de Deus. “Genealogias intermináveis”,
basicamente, são fatos históricos irrelevantes e curiosidades que apenas cansam
os santos, ao invés de alimentá-los com comida espiritual.
Não devemos pensar que essas coisas eram problemas que
perturbavam a Igreja primitiva, mas que não têm nenhuma importância nos dias de
hoje. Essas duas coisas ainda são um perigo no ministério Cristão. Será que
nunca ouvimos alguns, cujas mentes não são sujeitas aos bons princípios da exegese[1]
bíblica, dando à luz interpretações fantasiosas das Escrituras que na verdade
não passam de imaginações? E, não temos ficado pesarosos em ouvir algo tido
como ministério, mas que era apenas natural, terreno e histórico em termos de
conteúdo, porém não espiritual? Essas coisas podem captar a imaginação de
alguns, mas elas não estabelecem um alicerce de verdade nas almas sob o qual
estão firmadas na fé (Rm 16:25; Cl 2:7).
É perfeitamente possível ocupar tempo no ministério
com coisas que não edificam os santos na verdade. Timóteo tinha que repreender
esse tipo de ministério sem proveito e “advertir” aqueles que
ministrariam na assembleia para que “não ensinem outra doutrina” além
daquela para “promover a dispensação de Deus” (v. 4 – JND).
Promover a “dispensação de Deus” tem a ver com
apresentar a revelação Cristã da verdade de uma forma que os santos entendam
seu chamado em Cristo e suas respectivas responsabilidades na casa de Deus, tanto
individualmente quanto coletivamente. A revelação especial da verdade no Cristianismo,
que foi entregue aos santos em conexão com o chamado atual da Igreja, tem um
caráter celestial, em vez de terreno (Jd 3). É algo novo, diferente do sistema
legal na economia mosaica e deve ser o foco do ministério na casa de Deus no Cristianismo.
Promover a dispensação atual não é algo que se consegue ensinando a verdade
doutrinária sobre a Igreja apenas, mas também inclui aquilo que regula questões
práticas relativas à ordem moral da vida na casa de Deus. (Ensinar coisas que
dizem respeito ao lugar dos homens e das mulheres na casa de Deus, como Paulo
faz no capítulo 2, é um exemplo de promover a dispensação de Deus nesse sentido
prático.) Enquanto o objeto do ministério Cristão é apresentar a Cristo
em Sua glória e beleza, o propósito do ministério Cristão é “promover
a dispensação de Deus” nas almas dos crentes.
V. 5 – O “fim” (o objetivo) do “mandamento”
(encargo) dado a Timóteo era que uma condição espiritual correta fosse
encontrada nos santos a fim de que caminhassem de acordo com a devida ordem na
casa de Deus, e assim, um testemunho adequado do verdadeiro caráter de Deus
fosse dado por eles ao mundo.
Essa condição espiritual correta que Paulo desejava
nos santos resume-se em três coisas – “amor de um coração puro”, “uma
boa consciência” e “fé não fingida”. Uma pessoa nessa condição de
alma desejável terá:
- Amor de um coração puro, que é um coração de amor com motivos corretos para com todos. Segundas e impuras intenções só prejudicam o verdadeiro amor Cristão.
- Uma boa consciência não é obtida certificando-se de que nós nunca falharemos em nossa caminhada Cristã; ninguém teria uma boa consciência se fosse esse o caso, pois “todos tropeçamos” (Tg 3:2). Pelo contrário, trata-se de ter um coração sincero que julga a si mesmo constantemente.
- Fé não fingida é a confiança inabalável na bondade de Deus.
Podemos ver nisso que a finalidade do encargo não era
apenas produzir ortodoxia[2]
de doutrina entre os santos, mas também conformidade moral ao caráter de Deus
nos santos. A ideia de Paulo é clara, ensinar sã doutrina que promove a
dispensação de Deus produz resultados práticos nos santos. Isso apoia o velho
ditado de que “nossa doutrina forma nosso andar”. Boa doutrina leva a um bom
andar; ensino falso e sem proveito não faz isso. Na verdade, tais ensinos
errados levam a impiedade (2 Tm 2:16). Por esse mesmo motivo, “sã doutrina”
é enfatizada 7 vezes nesta epístola (cap. 1:10, 4:1, 6, 13, 16, 5:17, 6:1).
Portanto, em resumo, o encargo para Timóteo foi “promover
a dispensação de Deus” ensinando as doutrinas da graça, com o “fim”
de que os santos fossem encontrados em uma condição adequada para serem guiados
em uma linha de conduta condizente com a ordem da casa de Deus.
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[1] N. do T.: Exegese é um termo se originou a partir do
grego exégésis, que significa “interpretação”, “tradução” ou “levar
para fora (expor) os fatos”.
[2] N. do T.: Ortodoxia provém da palavra grega “orthos” que significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. É o que está
em conforme com a doutrina tida como verdadeira.
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