Servos (Escravos)
Capítulo 6 – Nesse capítulo, Paulo continua a tratar
das coisas que dizem respeito à comunhão na casa de Deus. Ele exorta contra
tudo aquilo que poderia prejudicar os relacionamentos especiais que temos uns
com os outros, e isso, por conta do testemunho público do Cristianismo perante
o mundo.
Cap. 6:1-2 – Paulo em seguida trata dos “servos [escravos – JND]” que
estavam sob a autoridade de seus senhores. Esses crentes eram escravos. Isso é
algo que nunca foi planejado para o homem, mas foi instituído por homens
perversos por motivos torpes. É significativo, no entanto, que Paulo não diz a
esses crentes escravos para se livrarem dessa situação. Pelo contrário, ele diz
a eles para se comportarem adequadamente nessa situação para que o testemunho
da graça de Deus não fosse manchado.
Isso mostra que o Cristianismo não é uma força para
corrigir injustiças sociais no mundo. Quando o Senhor veio em Sua primeira
vinda, Ele não Se empenhou em reformar o mundo e restaurar seus erros terrenos
– quer fossem sociais ou políticos. Ele fará isso num dia vindouro quando
intervier em julgamento em Sua Aparição; então toda coisa tortuosa nesse mundo
será endireitada (Is 40:3-5). Os Cristãos não devem tentar consertar o mundo
agora, mas aguardar por aquele dia (Mt 13:28-29). Devemos deixar o mundo tal
como está, e anunciar o evangelho que convoca os homens a saírem dele para o
céu. Não há, portanto, nenhuma ordem nas epístolas para Cristãos consertarem os
erros da escravidão, ou qualquer outra injustiça social nesse mundo. Isso é
porque estamos “no” mundo, mas não somos “do” mundo (Jo
17:14). O Senhor disse que se Seu reino fosse “deste mundo”, então Seus
servos lutariam nessas circunstâncias (Jo 18:36). Mas visto que não era esse o
caso, devemos “deixar o caco se esforçar
com os cacos da Terra” (Is 45:9 – JND). A esse respeito, Hamilton Smith disse: “O grande
objetivo da casa de Deus não é melhorar o mundo, mas dar testemunho da graça de
Deus a fim de que homens possam ser salvos do mundo, que, mesmo com a desenvolvimento
cultural e algumas melhorias sociais, está indo para o juízo”.
Paulo vê dois
cenários em relação aos servos (escravos): um onde o senhor talvez não seja um
crente (v. 1), e outro onde o senhor é um crente (v. 2). A grande preocupação
de Paulo em ambos os casos é que “o nome de Deus e a doutrina [o ensino – JND] não sejam
blasfemados”. Vemos aqui, como tantas vezes nessa epístola, que o
foco está em manter um bom testemunho exterior perante o mundo. Isso nos mostra
também que independentemente de onde uma pessoa está na escala social, ela
ainda tem uma oportunidade de testemunhar de Cristo.
Nota: Paulo não diz a esses servos para fugirem, como
Onésimo fez antes de ser salvo (Fm 15). Em vez disso, eles deviam permanecer
nessa situação de vida e glorificar a Deus diante de seus senhores tratando-os
com “toda a honra”. Isso renderia um bom testemunho perante todos.
Se o senhor fosse um crente, o servo poderia estar
inclinado a “desprezar” a ele por promover o princípio mundano da
escravidão, mesmo ele sendo um irmão no Senhor. Seria especialmente difícil
para os servos respeitar seus senhores nessa situação, sabendo que eles tinham
o seu “benefício pelo bom e pronto serviço [prestado]” (JND) pelo servo. Não obstante, os
servos deviam tratar seus senhores crentes “com sujeição porque eles são
fiéis e amados” (JND).
Poderíamos nos perguntar que lição nós – que vivemos
no mundo Cristão ocidental de hoje – poderíamos tirar disso, visto que a
escravidão foi abolida há muito tempo nessas regiões. No entanto, quando
estamos numa atividade profissional remunerada fazendo parte da força de
trabalho de alguma empresa, prestamos nossos serviços para essa empresa em
troca de remuneração (salário). Durante as horas de nosso trabalho nessa
ocupação, estamos, em princípio, na mesma posição desses servos. Portanto, as
ordens dadas aqui têm uma aplicação prática para nós quando estamos no local de
trabalho. Devem ser dados honra e respeito aos nossos empregadores, da mesma
forma que esses escravos eram obrigados.
A história da Igreja revela que essa ordem era observada
por escravos Cristãos em geral, ao ponto de ser algo bem conhecido no mundo da
escravidão que um escravo Cristão custava um preço mais alto nos leilões. Isso
é um grande tributo à fé Cristã. Deve ser da mesma forma hoje; qualquer
empregador que puder ter um empregado Cristão deve ser grato, pois o Cristão deve cuidar do negócio do seu empregador
e tratá-lo como se fosse seu (Ef 6:5-8; Cl 3:22-25; 1 Pe 2:18).
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