sábado, 15 de dezembro de 2018

Um Entendimento dos Tempos


Um Entendimento dos Tempos

V. 1 – Se o servo do Senhor pretende trabalhar com eficiência em Seu serviço, ele precisa primeiro ter um entendiemento dos tempos. As palavras, “o Espírito expressamente diz” reflete a importância disso. Paulo, portanto, começa com esse ponto. Nós precisamos saber onde nós estamos na história do testemunho Cristão para que possamos servir ao Senhor adequadamente nos nossos dias. Deveria ser claro para todos nós que não estamos vivendo em tempos apostólicos, nem estamos vivendo numa época de grande avivamento. Pelo contrário, nós estamos no final da história da Igreja na Terra – numa época em que há um grande abandono, confusão, e indiferença às reivindicações de Cristo na Cristandade. Triste dizer, muito daquilo que é considerado Cristianismo atualmente é quase irreconhecível quando lemos as Escrituras.
Esse abandono da ordem de Deus na casa de Deus é uma consequência da apostasia. Apostasia é a renúncia formal das verdades primordiais da fé, outrora defendida e professada. Somente um Cristão meramente professo “abandonaria” a fé dessa maneira (Hb 6:6; 2 Ts 2:3). Verdadeiros crentes, no entanto, podem ser afetados pela atual apostasia e renunciar a determinados princípios e práticas bíblicas. Eles podem retroceder e “cair” da graça (Gl 5:4) e da sua firmeza no Senhor (2 Pe 3:17), mas eles não apostatam (2 Ts 2:3; Hb 6:6 – “recaíram”). Portanto, eles podem “cair”, mas eles não “abandonam”.
A apostasia na Cristandade começou muito cedo na história da Igreja, e progressivamente se intensificou. Ela chegará ao seu ponto culminante depois que a Igreja for chamada ao céu, quando da revelação do anticristo (“o homem do pecado”) que irá guiar a Cristandade para longe de Cristo em uma apostasia generalizada (2 Ts 2:3). Um avanço nesse movimento de queda em direção ao fim pode ser traçado nas epístolas nas seguintes expressões:
  • “Nos últimos tempos” (1 Tm 4:1) – Alguns indivíduos na Cristandade apostatam da fé.
  • “Nos últimos dias” (2 Tm 3:1; 2 Pe 3:3) – A massa da Cristandade os seguem.
  • “No último tempo” (Jd 18) – A apostasia se torna mais intensa e aberta.
  • “A última hora” (1 Jo 2:18) – A apostasia é tão completa que todo ensino Cristão ortodoxo dado pelos apóstolos é abandonado. 

Paulo não perde tempo em contar a Timóteo sobre esse desvio descendente na profissão Cristã, dizendo, “Nos últimos tempos apostatarão alguns da fé”. Esse afastamento da verdade ocorre em consequência dos homens (apenas professos, sem vida divina) ligados ao testemunho exterior do Cristianismo se tornarem apostatas, e assim levarem outros pelo mesmo caminho. O que começa com “alguns” se desviando (1 Tm 1:3; 4:1; 2 Tm 2:18) evolui para “muitos” (2 Pe 2:2), até que “todos” (em determinadas regiões) se afastem (2 Tm 1:15).
Apostasia envolve não apenas o abandono da verdade, mas também a adoção do erro. Então, Paulo continua dizendo, “Dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios”. Isso mostra que não existe algo como um vácuo nas coisas de Deus; se a verdade não preenche nosso coração, outras coisas irão ocupar esse vazio. Nesse caso, serão as doutrinas de demônios. Repare como isso começa: primeiro, é “dando atenção” a esses erros (v. 1), depois isso sai de suas bocas como “hipocrisia de homens que falam mentiras” (v. 2). Isso mostra que más doutrinas mantidas na mente acabarão se tornando más doutrinas propostas. Essa é a diferença entre lepra espiritual “na cabeça” e lepra espiritual “na barba”. É significativo que seja mencionado como sendo primeiro na cabeça, e depois na barba (Lv 13:29).
Essas doutrinas, ensinadas por demônios, são verbalizadas por meio de agentes humanos. “Espíritos enganadores” influenciam a mente desses homens e eles acolhem ideias corrompidas e distorcidas. Esses homens organizam essas ideias em um sistema doutrinário e as apresentam às suas audiências incautas que as absorvem. Assim, a apostasia está se disseminando na Cristandade até que sua totalidade seja levedada pelo erro (Mt 13:33). Que demônios seriam encontrados na casa de Deus influenciando a mente de homens é bastante assustador, mas isso demonstra a grandiosidade dessa ruína.
É significativo que, na Escritura, quando ensinos errados são mencionados geralmente é no plural (“doutrinas”). Em contrapartida, quando a verdade é mencionada, é no singular (“doutrina” – cap. 4:6, 13; 5:17; 6:3, etc.). Isso mostra que más doutrinas raramente andam sozinhas; elas têm seus comparsas. Uma má doutrina dará origem a outra até que se tornem um complexo sistema de erro. Isso significa que se obtivermos  algum aspecto errado da verdade, o erro se misturará e isso afetará outras partes do nosso entendimento. A verdade, por outro lado, é mencionada no singular porque ela deve ser tomada como um todo harmonioso que flui em conjunto. Por isso, nós temos que interpretar cada passagem específica da Escritura à luz de todas as outras passagens da Escritura.
V. 2 – Paulo fala desses ensinos errados como “mentiras de hipocrisia”. Isso nos mostra que aqueles que promovem um sistema de erro geralmente não praticam aquilo que ensinam. Ele acrescenta, “tendo cauterizada a sua própria consciência”. Isso quer dizer que eles não chegaram a esse ponto sem serem previamente alertados. O Espírito de Deus sempre vai levantar uma voz contra a onda de mau ensino à medida em que ela surgir, e alguns do povo de Deus falarão contra isso. Mas quando tais advertências são rejeitadas, a consciência se torna endurecida (“cauterizada”).
Vs. 3-5 – Paulo não entra em detalhes sobre os erros doutrinários, mas chama atenção para seu efeito de levar as pessoas a negarem as demandas do Deus Salvador e do Deus Criador. Ele não queria que Timóteo perdesse seu tempo tentando entender os detalhes daqueles erros doutrinários, mas que combatesse essas coisas falsas ensinando a verdade (v. 6). Isso é instrutivo para nós, porque alguns acreditam que é necessário investigar os vários erros na Cristandade a fim de serem capazes de refutá-los. Mas isso não é sensato. Há um perigo de ser enredado nesses erros (Dt 12:29-32). Se ocupar com o erro pode levar uma pessoa ao erro.
Há uma característica que está frequentemente associada a esses falsos sistemas de ensino – eles incorporam princípios ascéticos para dar ao sistema uma aparência de grande piedade. Ascetismo é a negação de determinadas coisas naturais que Deus deu ao homem como uma misericórdia num esforço para alcançar uma pretensa santidade mais elevada. É uma tentativa de refrear a carne lutando contra a carne, mas isso nunca cumpre o que promete. Isso leva a carne a se manifestar de um jeito frequentemente pior do que antes; esse não é o caminho de Deus para a santidade. Indivíduos “simples [inocentes – (TB)], com pouco entendimento em coisas divinas, frequentemente ficam impressionados por uma aparência de grande santidade, e aceitam essas doutrinas e práticas más, acreditando que alcançarão uma experiência mais elevada com Deus (Rm 16:18).
Como Paulo observa, essas restrições estão geralmente no âmbito do casamento e da comida, que “Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças”. O sistema Católico Romano, por exemplo, negou aos seus seguidores essas duas coisas, ao impor uma abstinência de carne nas sextas-feiras e o celibato aos seus clérigos e freiras. No entanto, proibir essas coisas dadas por Deus é negar ao Deus Criador Seus direitos de conceder essas misericórdias às Suas criaturas.
Enquanto que a falsa piedade nega coisas naturais às pessoas, a verdadeira piedade aproveita das misericórdias que Deus proveu no caminho da fé, sabendo que essas coisas “pela palavra de Deus e pela oração são santificadas [se dirigindo a Ele livremente – JND]. Isso não significa que nossa oração antes das refeições “abençoa” misticamente a comida que estamos prestes a comer, mas que essas misericórdias do Criador são separadas (que é o significado de santificação) por Deus em Sua “Palavra” para nós a fim de desfrutarmos delas. A Palavra de Deus as santifica para o nosso uso (Gn 9:3; 1 Co 7:2-4; Hb 13:4). O fato de “oração” também ser mencionada mostra que nós devemos usufruir dessas coisas naturais no espírito de dependência. A Palavra de Deus regula o onde, quando e como usar dessas coisas naturais. Usufruir dessas misericórdias fora dos parâmetros da Escritura e da dependência de Deus pode conduzir ao pecado. Portanto, “a palavra de Deus e a oração” são uma proteção contra os extremos em que alguns Cristãos tem ido ao usarem de sua liberdade em relação a essas coisas naturais.

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