sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Pessoas Avarentas


Pessoas Avarentas

Cap. 6:9-16 – Tendo falado dos falsos mestres cujo ministério tem o efeito de estimular a avareza naqueles que estão sob seu ensino, Paulo agora passa a falar da classe de pessoas que recebe a doutrina deles. Ele designa esses como “os que querem ser ricos”. Eles são pessoas avarentas que são atraídas pela linha carnal de ministério dos falsos mestres.
V. 9 – Ao dizer “os que querem ser ricos”, Paulo não está falando necessariamente de pessoas ricas, mas daqueles que tem o “desejo” (JND) de ser ricos. O mal que ele está condenando é o de estabelecer para si mesmo o objetivo de ser rico. Uma pessoa pobre pode ter esse mau desejo, assim como uma pessoa rica. Isso leva Paulo a fazer um solene discurso a Timóteo sobre o uso e o abuso das riquezas, que continua por todo resto do capítulo. Ele dá algumas palavras de exortação bastante necessárias para aqueles que vivem nessa desenvolvida civilização ocidental onde a prosperidade tem quase matado o Cristianismo.
Ele diz a Timóteo que aqueles que perseguem as riquezas como um objetivo, “caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”. Isso não significa que Cristãos que cobiçam riquezas perderão sua salvação, mas que o pecado de perseguir as riquezas é tão perigoso e cegante que impede homens em seus pecados de irem a Cristo. Saber que esse pecado tem tamanho poder sobre a alma de uma pessoa deveria alarmar qualquer Cristão sensato, e fazê-lo julgar e abandonar qualquer ideia de cobiçar riquezas.
V. 10 – Paulo prossegue com seu alerta, dizendo, “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé [têm vagueado[1] da fé – JND], e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. As pessoas geralmente citam esse verso de maneira errada, dizendo que “dinheiro é a raiz de todos os males”. Mas isso não é o que ele diz; é o amor ao dinheiro que é a raiz de todos os males. As riquezas em si não são condenadas; antes, é o “amor” pelas riquezas e o “querer” (ter o desejo de) tê-las que é. Seu argumento é que se um homem ama desesperadamente o dinheiro, ele expõe a si mesmo a todo tipo de males que lutam contra sua alma. Aqueles que vão atrás de riquezas, com um mal desejo, pensam que conseguirão alegria e felicidade, mas isso produz apenas sofrimento. Eles buscam muitas riquezas, mas o que conseguem é “muitas dores”. Estejamos avisados; e lembremo-nos de que o amor ao dinheiro nem sempre começa com tendo milhões; pode começar com amor a cinco ou dez centavos! Paulo não está louvando a pobreza; ele está advertindo contra a avareza.
Vs. 11-12 – Tendo em conta o aumento dos ensinos errados e do desvio rumo ao lucro material entre muitos na casa de Deus, Paulo exorta Timóteo a fazer quatro coisas: ele devia “fugir” da avareza, “seguir” as características morais do reino em sua vida pessoal, e “militar [combater – ARA]” o bom combate da fé. Por último, mas não menos importante, ele devia “tomar posse da vida eterna”. Ao fazer essas coisas, Timóteo estaria em uma condição adequada para testemunhar uma “boa confissão” diante de todos.
Há uma ordem moral para essas coisas. Conforme o avanço do declínio no testemunho Cristão (cap. 4:1), haveria uma oposição crescente à revelação Cristã da verdade, como Paulo havia ensinado. Havia, portanto, uma grande necessidade de um homem como Timóteo estar engajado no “combate da fé” (conforme nota de rodapé da tradução de J. N. Darby em 1 Tm 6:12), que é defender toda a verdade de Deus. No entanto, Timóteo não teria nenhum poder nesse “bom conflito” se ele primeiro não fugisse do mal e seguisse o bem.
Ao fazer seu apelo a Timóteo, Paulo dá a ele um elogio muito alto ao chamá-lo de “homem de Deus”. Esse termo só aparece nas Escrituras quando a massa do povo professo de Deus falha em sua responsabilidade coletiva. Significa um homem que permanece fiel a Deus e age por Ele quando aqueles que professam conhecer a Deus demonstram ser infiéis. O termo sempre é usado no singular, significando que fidelidade é algo estritamente individual. Na primeira epístola, Paulo aplica o termo a Timóteo, mas na segunda epístola, ele o aplica a todos que caminhariam fielmente em um dia mal (2 Tm 3:16-17).
Como mencionado anteriormente, Timóteo precisava primeiro “fugir” da busca pelas riquezas. Ele não tinha que fugir do dinheiro, mas da avidez de tê-lo. “Tentação, e laço” que vêm com tal busca maligna tem desencaminhado muitos que de outra forma poderiam ter sido úteis no serviço do Senhor. O próprio Senhor advertiu “Não podeis servir a Deus e a mamom” (Lc 16:13). Mamom era o deus cananeu da fartura e da prosperidade. Esse deus permanece como um símbolo da avidez pela fartura material e riquezas. Se Timóteo tivesse qualquer anseio por “essas coisas” ele não seria eficiente nesse conflito espiritual.
Não era o suficiente para Timóteo evitar o mal; ele também devia “seguir [perseguir – JND] a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência [perseverança – JND], a mansidão”. Essas características morais do reino de Deus deviam estar nele como uma demonstração viva da verdade (Rm 14:17). Essas qualidades necessárias em um homem de Deus não se tornam parte de uma pessoa por acidente; elas devem ser buscadas. Isso requer um exercício de alma e propósito de coração para adquirir tais qualidades.
Fazendo essas coisas, Timóteo adquiriria a força moral e a coragem para “combater (diligentemente – JND) o “bom combate da fé”. – que consiste em “batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3 – ARA). O fato de isso ser chamado um “combate” e uma “batalha” mostra que há uma verdadeira batalha em andamento para anular a verdade. Há muitos artifícios mobilizados contra o testemunho Cristão, assim como há muitos adversários (1 Co 16:9; 2 Co 2:11).
É dito à Timóteo: “milites” a “boa milícia” (cap. 1:18), mas não entrando em discussões carnais sobre a verdade. Ele devia apresentar a verdade da posição de alguém que está desfrutando atualmente dela. Por isso, Paulo acrescenta uma quarta coisa – a necessidade de “tomar posse da vida eterna”. O que isso significa? A vida eterna é nossa a partir do momento em que cremos no evangelho (Jo 3:15, etc.), ainda assim, somos exortados a “tomar posse” dela em termos práticos. Cada Cristão possui vida eterna como um dom de Deus (Rm 6:23), mas tomar posse dessa vida na prática é uma outra questão. A essência da vida eterna é ter comunhão consciente com o Pai e o Filho (Jo 17:3; 1 Jo 1:3) no poder do Espírito Santo de Deus habitando em nós (João 4:14). Portanto, tomar posse dessa vida é viver no prazer da comunhão com o Pai e o Filho. Aqui reside o segredo do poder para testemunhar “a boa confissão”.
Cristãos avarentos estão lutando para obter riqueza, mas o Cristão fiel está em uma luta para defender a verdade. As consequências dessas buscas diferentes são opostas; os Cristãos avarentos “se desviam da fé (v. 10), mas os Cristãos fiéis permanecem firmes no “combate da fé (v. 12 – ARA).
V. 13 – Ao testemunhar a boa confissão, certamente iremos encontrar oposição. Paulo não minimiza isso. Perseguição viria (2 Tm 3:12), mas ele lembrou a Timóteo de que ele vivia sob o olhar do “Deus que preserva a vida de todas as coisas” (ARA). Isso foi mencionado para fortalecer a confiança de Timóteo no Senhor, a fim de que ele permanecesse em seu testemunho pela verdade destemidamente. Para encorajá-lo ainda mais, Paulo coloca o Senhor Jesus diante dele como o Exemplo perfeito de fidelidade.
É apropriado que essa epístola – que tem a ver com aqueles que compõem a casa de Deus manifestando corretamente o caráter de Deus – deva terminar com a manifestação suprema na Pessoa de Cristo. Quando Ele esteve aqui na Terra, Ele foi o grande Confessor da verdade e Representante perfeito de Deus. Ele “diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão” ao manifestar perfeitamente Deus diante de enorme oposição. Ele não comprometeria nada diante de Pilatos, mas esteve inabalável em Sua confissão, ainda que Suas palavras fossem poucas.
V. 14 – Paulo não diz que a boa confissão de nosso Senhor culminou com Ele sendo martirizado por homens perversos – que era algo que realmente poderia acontecer a Timóteo. Em vez disso, direciona-o à “Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo”. Para encorajar a Timóteo ainda mais nessa posição pela verdade, Paulo lembra a ele de que a fidelidade terá sua recompensa no dia futuro. Se o mandamento (encargo) fosse mantido “sem mácula e irrepreensão” seria recompensado, e manifestado na Aparição de Cristo. Embora todo testemunho possa parecer ser inútil em virtude da incredulidade do homem, na Aparição as consequências de tal fidelidade serão manifestadas diante de todos.
Vs. 15-16 – Em conexão com o fato de que nossa confissão atual será recompensada no dia vindouro, Paulo chama atenção para a grande recompensa que Cristo irá receber no momento de Sua Aparição. “A seu tempo” (na Aparição), o “bendito e único Soberano” (Deus) (ARA) “mostrará” a todos “o Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Cristo). (É difícil discernir se os pronomes nesses versos estão se referindo a Deus o Pai ou ao Senhor Jesus Cristo, mas aquilo que afirmamos parece ser o sentido geralmente aceito dessa passagem.)
O assunto nessa passagem é esse: visto que o Senhor Jesus manifestou a Deus fielmente em Seu primeiro advento, Deus O manifestará em Seu segundo advento. Será uma manifestação gloriosa, mas não de Cristo em Sua deidade essencial, pois isso está além do conhecimento da criatura e Ele subsiste em luz inacessível. Em Seu Ser essencial, Deus tem “Ele só” “a imortalidade, e habita na luz inacessível [inaproximável – JND]; a Quem nenhum dos homens viu nem pode ver [nem é capaz de ver – JND]. Deus na essência abstrata de Seu Ser não será visto naquele dia, mas Cristo como um Homem glorificado será o centro de toda glória visível. J. N. Darby disse: “É Deus na abstração de Sua essência, na própria imutabilidade de Seu Ser, nas prerrogativas de Sua majestade, encoberto a todos os homens”.
Após falar da grandeza de Deus e glória de Cristo, Paulo não pôde deixar de acrescentar uma pequena doxologia de louvor – “ao Qual seja honra e poder sempiterno. Amém”.




[1] N. do T.: Vaguear significa andar sem destino ou rumo certo, deixando-se dominar por fantasias e imaginação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário